sábado, 30 de março de 2019

ARTIGO: O HOMEM QUE SABIA DEMAIS

Provavelmente  você nunca tenha ouvido falar em Abū ‘Alī al-Ḥasan ibn al-Haytham. Na América e na Europa, ele é conhecido como Alhazen, que é a forma latina do nome árabe dele, al-Ḥasan. A grande verdade é que todos nós nos beneficiamos do trabalho dele. Já foi dito que ele é “uma das pessoas mais importantes e influentes da história da ciência”.
Alhazen nasceu em 965 depois de Cristo em Basra, onde atualmente é o Iraque. Ele se interessava por astronomia, óptica, química, física, matemática, medicina, música e poesia. Mas por que devemos ser gratos a ele?
Já por muitos anos, as pessoas contam uma história sobre Alhazen. Essa história é sobre a ideia que ele teve de controlar o fluxo do rio Nilo. Mas foi só em 1902, quase mil anos depois de ele planejar isso, que uma barragem foi construída no rio Nilo, na cidade de Assuã.
Alhazen apresentou planos elaborados para regular as inundações e secas do Egito. A ideia era fazer uma represa no rio Nilo. O governante da cidade do Cairo, o califa al-Hakim, gostou dessa ideia e convidou Alhazen para ir ao Egito construí-la. Mas, quando Alhazen viu o rio Nilo de perto, ele percebeu que não conseguiria dar conta do projeto. Com muito medo de ser castigado por al-Hakim, que tinha fama de ser muito cruel, Alhazen se fingiu de louco. Ele manteve essa mentira por cerca de 11 anos, até a morte de al-Hakim em 1021. Durante esses 11 anos, Alhazen ficou preso por insanidade mental. Enquanto estava preso, ele se dedicou a outras atividades.
Antes de ser solto, Alhazen já tinha escrito a maioria dos sete volumes do Livro da Óptica, que é considerado “um dos livros mais importantes da história da física”. Nesse livro, Alhazen fala de seus experimentos sobre a natureza da luz — como a luz se divide nas várias cores que a compõem, como ela é refletida nos espelhos e como ela se desvia quando passa de um meio para outro. Ele também estudou a percepção visual, bem como a anatomia e os mecanismos da visão.
Alhazen descobriu os princípios que até hoje servem de base para a fotografia. Ele conseguiu isso quando construiu o que pode ter sido a primeira câmara escura já inventada. Essa câmara é basicamente um “quarto escuro”. Nela, era feita uma pequena abertura. Quando a luz passava por essa abertura, ela projetava uma imagem invertida do que estava do lado de fora do quarto.
Até o século 13, o trabalho de Alhazen já tinha sido traduzido do árabe para o latim. E, nos séculos seguintes, estudiosos europeus citaram Alhazen como autoridade. Mais tarde, os estudos de Alhazen sobre as propriedades das lentes serviram de base para os fabricantes de óculos da Europa. Depois, quando esses fabricantes colocaram uma lente em frente à outra, eles inventaram o telescópio e o microscópio.
Nos anos 1800, placas fotográficas foram adicionadas à câmara escura para capturar imagens. O resultado? A invenção da câmera. Todas as câmeras modernas, e até os nossos olhos, seguem os mesmos princípios que a câmara escura.
Um aspecto muito interessante do trabalho de Alhazen era seu método preciso de pesquisa dos fenômenos da natureza. Isso quase não era feito naquela época. Alhazen foi uma das primeiras pessoas que testaram teorias por meio de experimentos. Além disso, quando analisava as evidências e percebia que algum conhecimento da sua época estava errado, ele não tinha medo de questioná-lo.
A ciência moderna se baseia no seguinte: “Prove aquilo em que você acredita!” Alguns consideram Alhazen como “o pai do método científico moderno”. Assim, temos muitos motivos para agradecer a ele.
O autor Jim Al-Khalili diz que Alhazen era um grande cientista “não por ter descoberto algo fantástico . . . mas porque ele nos ensinou o jeito certo de fazer ciência”. O Livro da Óptica, de Alhazen, já foi chamado de “um verdadeiro livro de ciência”. Ele possui descrições precisas dos experimentos de Alhazen, das ferramentas e métodos que ele utilizou, bem como dos resultados que obteve.

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