terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

ARTIGO: O SOL DA ÁFRICA

No início do século 20, Nairóbi foi constituída centro administrativo do recém-criado Protetorado da África Oriental (Quênia). Um bom planejamento teria ajudado o desenvolvimento urbano. Mas, em vez disso, ergueu-se em volta da estação ferroviária uma miscelânea de estruturas rústicas de madeira, chapas de zinco e outros materiais locais, dando a Nairóbi uma aparência mais de favela do que de futura metrópole. Na realidade, os poucos prédios existentes na virada do século 20 não haviam sido projetados com esse objetivo. Outro problema era a constante ameaça de animais selvagens rondando pela vizinhança. 
Logo vieram doenças — epidemias — devastando o povoado. Esse foi o primeiro grande obstáculo a ser vencido pelos novos administradores. Uma solução rápida? Queimaram as áreas afetadas a fim de conter a disseminação. Nos próximos 50 anos Nairóbi foi gradativamente se despojando das velharias grotescas do passado, à medida que se erguia, tornando-se o centro comercial e social da África Oriental.

Nairóbi, localizada a uma altitude de 1.680 metros, tem uma vista maravilhosa das regiões em volta. Em dias claros, avistam-se dois marcos importantes da África. Ao norte, o monte mais alto do país e o segundo mais alto da África, o monte Quênia, com seus 5.199 metros de altitude. Mais para o sul, o monte mais alto da África, o Kilimanjaro, com 5.895 metros de altitude, na fronteira do Quênia com a Tanzânia. Por estar localizado perto da linha do equador, geógrafos e exploradores europeus há 150 anos ficavam perplexos de o Kilimanjaro estar sempre coberto de neve e gelo.
Nairóbi, com seus mais de 50 anos de história, sofreu uma metamorfose total. Salta aos olhos o desenvolvimento ao se observar as constantes mudanças no perfil da cidade.  Hoje, são impressionantes os arranha-céus imponentes de vidro e aço brilhando à luz do crepúsculo tropical. O turista que anda pelo centro comercial da cidade nunca imaginaria que há apenas cem anos esse local era o habitat de animais selvagens!
Mas com o tempo isso foi mudando. Trouxe-se flora exótica para Nairóbi — lindas primaveras, jacarandás floridos, eucaliptos de rápido crescimento e acácias. Aos poucos antigas trilhas empoeiradas foram transformadas em avenidas arborizadas, que na época de calor proporcionam sombra para os pedestres. Foi criado um arboreto perto do centro da cidade que abriga pelo menos 270 espécies de árvores. É por isso que certo escritor declarou que Nairóbi “parece ter sido construída no meio de uma floresta virgem”. A vegetação exuberante contribui muito para regular a temperatura ideal da cidade — dias quentes e noites frescas.
Nairóbi, assim como um grande ímã, atraiu uma infinidade de nacionalidades — hoje a cidade tem mais de dois milhões de habitantes. Com a estrada de ferro pronta, muitas pessoas acharam conveniente estabelecer-se na região. Os indianos, por exemplo, que participaram na construção dela acabaram ficando e montando empresas que cresceram e se ramificaram por todo o país. Outros empresários foram chegando da Austrália, do Canadá e de vários países africanos.
Nairóbi é um cadinho de povos e culturas. Na rua você pode se deparar com uma indiana vestindo um sari esvoaçante a caminho do shopping center; um engenheiro paquistanês afoito dirigindo-se para um canteiro de obras; um comissário de bordo holandês, vestido impecavelmente, se registrando num dos hotéis; ou um executivo japonês apressado para uma reunião de negócios decisiva, realizada com toda probabilidade na próspera bolsa de valores de Nairóbi. Sem falar do povo em geral — pessoas em paradas de ônibus; camelôs, feirantes e lojistas; e funcionários de escritório ou das muitas indústrias da cidade.
 paradoxo é que poucos quenianos residentes na cidade são nairobianos natos. A maioria vem de outras partes do país à procura de uma vida melhor. Mas os residentes de Nairóbi em geral são amigáveis e acolhedores — hospitalidade essa que contribuiu para que organizações mundiais e regionais estabelecessem sua sede na cidade, como no caso do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 
O Quênia abriga uma imensa variedade de vida selvagem. Seus muitos parques nacionais e reservas naturais atraem milhares de turistas anualmente. Muitas excursões saem de Nairóbi, embora ela seja uma atração turística também. Em pouquíssimas cidades no mundo há animais selvagens rondando na frente do portão de casa. O Parque Nacional de Nairóbi, a menos de 10 quilômetros do centro, é um paraíso para os turistas.  
Nesse parque dá para se conhecer os primeiros residentes da cidade. Apenas alguns fios de arame separam os animais das pessoas. E não faz muito tempo, em setembro de 2002, um leopardo adulto foi pego na sala de estar de uma casa em Nairóbi, perdido, vindo de uma floresta nas proximidades. 
A alguns minutos a pé do centro da cidade fica o Museu de Nairóbi, aonde centenas de turistas afluem diariamente para aprender mais sobre a rica história do Quênia. Dentro do museu há um viveiro de cobras com uma variedade de espécies de répteis. O crocodilo não se deixa afetar por turistas que o encaram. Não muito longe, a tartaruga também, com o seu passo lento, parece não se preocupar com o corre-corre do mundo em volta. É claro que os residentes principais aqui são do tipo rastejante — najas, pítons e víboras. Cercado de criaturas assim, é bom atentar ao aviso: “Cuidado, cobras venenosas!”

Em 1931, muito antes de Nairóbi ter atingido as atuais proporções, Gray e Frank Smith, irmãos da África do Sul, visitaram o Quênia a fim de divulgar as verdades da Bíblia. Saindo de Mombaça eles seguiram a rota da ferrovia, enfrentando muitos perigos — às vezes dormindo ao relento a pouca distância de animais selvagens. Em Nairóbi eles distribuíram 600 folhetos além de outras publicações bíblicas. Hoje na região metropolitana há cerca de 5 mil Testemunhas de Jeová, nas 61 congregações, e sua obra se tornou conhecida por meio das reuniões congregacionais, assembléias, congressos de distrito e congressos internacionais. Muitos gostam da mensagem de esperança da Bíblia e a aceitam.
Nas cidades industrializadas geralmente há falta de moradias decentes . . . As fábricas costumam poluir o ar e a água”, diz a Encyclopædia Britannica. Nairóbi não é exceção. E visto que há uma migração diária da zona rural, esses problemas podem aumentar. Com essa constante agressão, o brilho dessa gema, Nairóbi, pode facilmente se desvanecer.
ESSA é uma descrição de Nairóbi de um pouco mais de um século atrás — habitat de leões, rinocerontes, leopardos, girafas, serpentes venenosas e milhares de outras formas de vida selvagem. Os destemidos massai traziam seu precioso gado para as águas frescas de um rio nesse local — uma vista agradável para comunidades nômades. Tanto que os massai chamavam o rio de Uaso Nairobi (águas frias), e o local de Enkarre Nairobi (lugar de águas frescas). Foi assim que surgiu o nome Nairóbi — lugar e mais tarde cidade que mudaria totalmente a história do Quênia.
 Um evento importante no desenvolvimento de Nairóbi foi a construção da estrada de ferro queniana, originalmente chamada de Expresso Lunático. * Em meados de 1899, já existiam 530 quilômetros de trilhos assentados — da cidade costeira de Mombaça até Nairóbi. A essa altura, a equipe de construção da estrada de ferro já havia perdido muitos colegas, vítimas de dois leões — os famosos “devoradores de homens de Tsavo” — além de ter de enfrentar o relevo pavoroso do Vale da Grande Fenda. Como a estrada de ferro ia continuar interior adentro, Mombaça não era mais viável como o principal entreposto. Então, apesar da aparência inóspita, Nairóbi foi escolhida para acomodar os trabalhadores e como entreposto para materiais de construção. Isso pavimentou o caminho para que no futuro ela se tornasse a capital do Quênia.

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