terça-feira, 12 de março de 2019

ARTIGO: O ESQUECIDO HOOKE

ROBERT HOOKE, descrito por seus contemporâneos como “o homem mais criativo que já viveu”, é agora aclamado como o Leonardo da Vinci * da Inglaterra. Nascido em 1635, Hooke foi indicado curador de experimentos na Sociedade Real de Londres em 1662, e se tornou secretário dessa instituição em 1677. Ele morreu em 1703. No entanto, apesar de seu prestígio científico, seu corpo está enterrado numa sepultura desconhecida em algum lugar no norte de Londres.

Em anos recentes, cientistas e historiadores têm se esforçado para restaurar a reputação desse “gênio esquecido”, conforme chamado pelo biógrafo Stephen Inwood. Em 2003, para celebrar os 300 anos da morte de Hooke, o Observatório Real de Greenwich em Londres, exibiu algumas de suas extraordinárias invenções e descobertas. Quem foi Robert Hooke, e por que ficou quase esquecido por tanto tempo?
Hooke era um homem instruído e inventor brilhante. Entre suas muitas criações estão a junta universal, usada hoje nos veículos motorizados; o diafragma íris, que regula o tamanho da abertura do orifício das câmeras; e o emprego da mola no balanceiro dos relógios. Ele formulou a lei de Hooke, uma equação ainda hoje usada para descrever a elasticidade das molas. Ele também desenvolveu a bomba de ar para Robert Boyle, químico e físico britânico de destaque.
No entanto, uma das grandes realizações de Hooke foi o projeto do microscópio composto, que mais tarde foi construído por Christopher Cock, um famoso fabricante de instrumentos em Londres. Com esse instrumento, Hooke  pôde observar as pequenas cavidades da cortiça, parecidas com favos de mel. Baseado nisso, cunhou a palavra “célula”, que mais tarde passou a ser aplicada às unidades estruturais básicas dos organismos vivos.
Logo ficou famoso com a publicação do seu livro Micrographia (Micrografia), em 1665. Esse livro contém belas e exatas ilustrações de insetos feitas pelo próprio Hooke, conforme ele os via pelo microscópio. Sua ilustração mais famosa é a de uma pulga. A gravura de uns 30 cm por 45 cm mostra as garras, os espinhos e a carapaça do inseto. Saber que aquelas pequenas criaturas freqüentemente viviam nas pessoas chocou muitos leitores ricos da época. Dizem que as damas desmaiavam só de ver a gravura.
Depois de comparar a ponta ampliada de uma agulha fabricada pelo homem com as coisas da natureza, Hooke escreveu: “O Microscópio nos proporciona centenas de exemplos de extremidades que são milhares de vezes mais afiadas” do que as de uma agulha. Ele estava se referindo a cabelos, cerdas, garras de insetos, espinhos, ganchos e pêlos de vegetais. Esses “trabalhos da natureza”, disse ele, declaram a onipotência daquele que os criou. “Pela primeira vez”, diz a Encyclopædia Britannica, o microscópio revelara “um mundo em que os organismos vivos desempenham uma complexidade quase que inacreditável”.
Hooke foi o primeiro a examinar fósseis com um microscópio, o que o levou a concluir que eram vestígios de organismos mortos havia muito tempo. O Micrographia continha muitas outras observações científicas fascinantes. De fato, o redator de um diário, Samuel Pepys, contemporâneo de Hooke, disse que Micrographia era o livro mais engenhoso que ele já havia lido. Allan Chapman, historiador de ciência na Universidade de Oxford, descreveu essa obra como “um dos livros que mais influenciaram o mundo moderno”.
Depois do grande incêndio de Londres em 1666, Hooke foi nomeado  topógrafo. Ele trabalhou na reconstrução da cidade lado a lado com seu amigo Christopher Wren, colega cientista e topógrafo do rei. Entre os muitos projetos de Hooke está o Monumento de Londres com 62 metros de altura, construído em lembrança do incêndio. Hooke pretendia usar o monumento, a maior coluna de pedra sem sustentação do mundo, para testar suas teorias sobre a gravidade.
Embora o projeto do Observatório Real de Greenwich seja atribuído a Wren, Hooke teve uma grande participação nele. A Montague House, primeiro local que abrigou o Museu Britânico, foi outro dos muitos projetos de Hooke.
Em 1687, Isaac Newton publicou Mathematical Principles of Natural Philosophy (Princípios Matemáticos da Filosofia Natural). Lançado 22 anos depois do livro Micrographia de Hooke, o trabalho de Newton descrevia as leis de movimento, inclusive a lei da gravidade. Mas, como observa Allan Chapman, Hooke “havia desenvolvido muitos dos componentes da teoria da gravidade antes de Newton”. A pesquisa de Newton sobre a natureza da luz também foi impulsionada pelo trabalho de Hooke.
Infelizmente, discussões sobre óptica e gravidade estremeceram a relação entre os dois. Newton até mesmo removeu do livro Mathematical Principles todas as referências a Hooke. De acordo com uma autoridade,  uma série de documentos e o seu único retrato autêntico sumiram logo depois que Newton se tornou o presidente da Sociedade Real. Por causa disso, Hooke praticamente caiu no esquecimento por mais de dois séculos.
Ironicamente, foi numa carta endereçada a Hooke, de 5 de fevereiro de 1675, que Newton escreveu suas famosas palavras: “Se consegui ver além, foi por ficar nos ombros de gigantes.” Como arquiteto, astrônomo, cientista experimental, inventor e topógrafo, Robert Hooke foi um gigante em seus dias.

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