segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

ARTIGO: NOVO MUNDO


Quem descobriu a América? Na realidade, ninguém tem muita certeza. A resposta depende do que se entende por “descobrir” e por “América”. É bom lembrar que esse vasto território já era habitado muitos séculos antes de os europeus tomarem conhecimento de sua existência. Cristóvão Colombo, após a sua primeira travessia à América, retornou à Europa no início de 1493, com muita coisa para contar. Na verdade, ele havia aportado nas ilhas das Índias Ocidentais. Mas, ele não foi o primeiro europeu a chegar a esse surpreendente novo mundo. Segundo as evidências, um bando de escandinavos alourados já havia visitado o continente norte-americano 500 anos antes de Colombo.
 Tudo indica que há mil anos, o Atlântico Norte já era um imprevisível mar de águas gélidas. É bem característico dos homens do mar achar que conhecem a direção dos ventos e das correntes. Mas, às vezes, desorientados pela neblina ou por tempestades, levam semanas para retomar o rumo certo. Conta uma saga escandinava antiga que em um certo verão foi exatamente isso que aconteceu com o jovem Bjarni Herjolfsson, hábil homem do mar e aventureiro. Ele perdeu o rumo — mas talvez tenha descoberto um continente!
Isso tudo aconteceu na era dos vikings. Um período expansionista para os povos nórdicos — época em que aumentaram seus domínios além-mar e Europa adentro. Suas sólidas embarcações, longas e esguias, eram vistas por todo lado: da costa da Noruega ao litoral do Norte da África e até nos rios da Europa.
Segundo a Saga of the Greenlanders (Saga dos Groenlandeses), Bjarni empreendeu uma longa expedição à Noruega. Em 986 EC, antes da chegada do inverno, ele voltou à Islândia com o navio carregado. Mas, para a sua surpresa, seu pai não estava lá. Ele havia deixado a Islândia e se juntado a uma frota de navios sob o comando de Erik, o Ruivo. O objetivo dessa expedição era se estabelecer em uma terra grande, descoberta por Erik, ao oeste da Islândia. Para tornar essa ilha mais interessante, Erik havia-lhe dado o nome de Grönland (terra verde, atual Groenlândia). Sem perder tempo, o jovem Bjarni içou as velas e se pôs a navegar em direção à Groenlândia. Mas a direção dos ventos mudou. Uma forte cerração envolveu a embarcação. A saga narra: “Os homens navegaram por dias sem rumo.”
Quando finalmente avistaram terra, essa não correspondia em nada à descrição da Groenlândia. O litoral ostentava uma vegetação luxuriante com florestas e colinas. Eles continuaram navegando ao longo da costa, rumo ao norte. Ao verem terra pela segunda vez, novamente notaram que não se assemelhava em nada à Groenlândia de que tinham ouvido falar. Continuaram navegando e, passados alguns dias, o cenário começou a mudar, tornando-se mais montanhoso e glacial. Então Bjarni e a sua tripulação mudaram o curso para o leste em direção ao alto-mar, achando finalmente a Groenlândia, a colônia escandinava de Erik, o Ruivo.
Essa pode muito bem ter sido a primeira vez que europeus puseram os olhos, mas não os pés, no continente que mais tarde veio a ser chamado de América do Norte. Os vikings, ao ouvir os relatos de Bjarni sobre a Groenlândia, se mostraram muito interessados. Isso porque viviam em uma terra de clima frio e com poucas árvores; para consertar as embarcações e as casas, eles dependiam de madeira flutuante ou transportada de além-mar, o que saía muito caro. Mas, pelo que Bjarni contava, era só atravessar o mar em direção ao oeste e lá estava uma terra coberta de florestas — milhares e milhares de árvores!
Quem ficou mais tentado a conhecer essa terra foi o jovem Leif Eriksson, filho de Erik, o Ruivo. Ele era descrito como um “homem alto, robusto e forte, de presença marcante, e prudente”. Por volta do ano 1000, ele comprou a embarcação de Bjarni e com uma tripulação de 35 homens se aventurou mar afora à procura da terra que Bjarni havia avistado.
Segundo as sagas, a primeira descoberta de Leif foi uma terra sem relva, com grandes geleiras cobrindo os planaltos. O terreno plano mais parecia uma rocha lisa, e Leif chamou o lugar de Helluland — que significa “terra das rochas lisas”. Esse pode muito bem ter sido o momento em que europeus pisaram pela primeira vez na América do Norte. Os historiadores acham que essa terra deve ter sido a ilha de Baffin, no nordeste do Canadá.
Os desbravadores vikings continuaram a jornada em direção ao sul e se depararam com uma segunda terra, plana e coberta de florestas, com praias de areia branca. Leif chamou o lugar de Markland, que significa “terra das florestas” e hoje se acredita que seja Labrador. Logo adiante descobriram uma terceira terra muito mais interessante.
A saga prossegue: “Eles voltaram a navegar em alto-mar e só depois de dois dias impelidos  pelas nordestadas é que foram avistar terra de novo.” Essa terra os agradou tanto que decidiram construir casas e passar o inverno ali. Nessa época do ano, “a temperatura nunca caía abaixo de zero e a relva nem chegava a secar”. Mais tarde, um dos homens até mesmo encontrou uvas e videiras e, pelo que tudo indica, foi isso que levou Leif a chamar a terra de Vinland, ou “terra das videiras”. Na primavera seguinte, eles rumaram de volta para a Groenlândia com as embarcações carregadas de frutos de Vinland.
Os estudiosos gostariam muito de saber onde ficava essa Vinland, de verdes pastagens e de uvas, mas até hoje não se tem certeza. Alguns pesquisadores acham que a topografia do terreno de Terra Nova corresponde às descrições das sagas. Uma escavação feita ali comprovou a presença dos vikings na ilha. Por outro lado, há cientistas que são da opinião que esse sítio em Terra Nova era usado pelos vikings como base de apoio ou ponte para uma Vinland mais ao sul. 
Até o momento, não há como conciliar os detalhes da saga escandinava com a geografia atual. Os historiadores há muito vivem intrigados com as descrições superficiais e crípticas 
 desses relatos. Foi só nas décadas de 60 e de 70 que a presença viking na América antes de Colombo veio a ser solidificada. Escavações de um sítio perto do vilarejo de L’Anse aux Meadows, na Terra Nova, revelaram ruínas de casas que sem sombra de dúvida são de origem viking, e também um forno de fundição de ferro e outros objetos que foram datados da época de Leif Eriksson. Outra descoberta mais recente foi a de um explorador dinamarquês no sul da Terra Nova: uma pedra entalhada que na certa servia de lastro nas embarcações vikings.
Os nórdicos não guardavam segredo das suas travessias à procura de novas terras ao oeste. Leif Eriksson viajou à Noruega para relatar ao rei o que tinha visto. Por volta de 1070, o Rei Sweyn, da Dinamarca, contou sobre Vinland, as videiras e o vinho excelente a Adam, de Bremen, historiador alemão e reitor de uma escola-catedral, que lá se encontrava para aprender mais sobre os países nórdicos. Adam incluiu essas informações na sua crônica. Assim, muitos eruditos na Europa tomaram conhecimento dos países ocidentais visitados pelos vikings. Os antigos anais islandeses dos séculos 12 e 14 mencionam algumas viagens posteriores dos vikings a Markland e a Vinland, ao oeste da Groenlândia.
É muito provável que Cristóvão Colombo estivesse a par das expedições a Vinland, uns 500 anos antes dele. Um livro sobre Vinland diz que há indícios de que antes de sua famosa travessia de 1492/93, Colombo tenha navegado à Islândia para consultar os registros e se inteirar dos fatos.
Não há registro de colonização viking permanente na América. Os vikings devem ter tentado se estabelecer, mas se conseguiram, foi por pouco tempo. As condições não eram nada favoráveis para eles e os americanos nativos, a quem eles chamavam de skraelings, eram páreo duro para esses “intrusos”. Na Groenlândia, os descendentes de Erik, o Ruivo, e de seu filho, Leif Eriksson, passaram por momentos difíceis devido aos rigores do clima e às provisões que se tornavam cada vez mais escassas. Pelo visto, depois de quatro ou cinco séculos, não havia mais vikings na Groenlândia. O último registro que há deles nessa terra é do ano de 1408, por ocasião de um casamento em uma igreja. Mais de um século depois, um navio mercante alemão, ao passar pela Groenlândia, encontrou a colônia totalmente deserta com a exceção do cadáver de um homem com a faca do lado. Depois disso, não há mais registro de vikings na Groenlândia. Foi só no século 18 que chegaram os noruegueses e os dinamarqueses para estabelecer uma colônia ali.
Mas foi da Groenlândia que intrépidos navegadores nórdicos se puseram a navegar à procura de um novo mundo. Dá até para visualizar aqueles destemidos homens do mar navegando nas embarcações de velas quadradas, em águas desconhecidas, até que de repente seus olhares se fixaram maravilhados em uma terra diferente que começava a surgir no horizonte! E pensar que cinco séculos mais tarde, Cristóvão Colombo receberia toda a glória de ter descoberto o Novo Mundo!Os vikings eram exímios navegadores, apesar de não terem bússolas. Quando não estavam em alto-mar, eles navegavam a uma distância que desse para ver a linha costeira. Sempre que possível, atravessavam estreitos num ponto onde se via a terra dos dois lados. Outro fator é que sabiam se guiar pelo sol e pelas estrelas. Por exemplo, para saber a latitude, eles faziam uso de um sistema simples. Era uma tabela com números para cada semana do ano e uma peça de madeira para medir a altura do sol acima do horizonte ao meio-dia. E como não tinham meios de medir a longitude, em alto-mar, eles preferiam velejar em direção ao leste ou ao oeste, seguindo uma latitude predeterminada.
Digamos que da Groenlândia quisessem viajar a um ponto específico no litoral de Vinland. Eles navegariam para o sul até encontrarem a latitude certa; depois rumariam em direção ao oeste até encontrarem o porto desejado. Outro método usado em alto-mar era observar as aves. Os vikings eram peritos em deduzir onde ficava a terra — e em identificar a terra — por observar o vôo das aves. Às vezes levavam corvos nas viagens; e quando os libertavam, eles voavam a uma grande altura e depois se dirigiam à costa mais próxima. Era assim que a tripulação sabia a localização da terra mais próxima.
Outra técnica de navegação era o uso da sonda. O navegador viking lançava nas águas uma linha com uma peça de chumbo presa a ela. Isso tinha duas funções. Primeiro, ele podia saber a profundidade das águas. Uma vez que o chumbo alcançava o fundo do mar, ele puxava a linha e com o palmo media o comprimento. Até os nossos dias, os marujos medem a profundidade em fathoms (braças), palavra escandinava antiga que significa “braços estendidos”. Mas a peça de chumbo presa à linha tinha uma segunda função. Em geral, ela tinha fundo oco, que era enchido com sebo. Assim, a peça de chumbo içada trazia consigo uma amostra do leito do mar. O homem do mar examinava a composição da amostra e consultava as tabelas marítimas que continham descrições dos componentes do leito do mar de vários lugares. Mesmo com instrumentos rudimentares como esses, os vikings se tornaram navegadores extraordinários!

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